segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Rock Tornou-se Aquilo Que Mais Odiava

Pois é, pessoal. Quem diria que um dia isso viria a acontecer! O rock 'n' roll tornou-se música feita por gente careta! Desde os seus primórdios na década de 1950, o rock surgiu como uma voz oposta aos chamados ditames “da moralidade e dos bons costumes”. Quando Chuck Berry, Little Richard e Bo Diddley enfureceram homens brancos racistas de meia idade, quando esses souberam que seus filhos estavam dançando o frenético ritmo do twist. Elvis Presley horrorizou os moralistas com seu rebolado transmitido em cadeia nacional. John Lennon e os Beatles causaram a revolta dos religiosos fanáticos, pela afirmação de que os Beatles eram mais famosos do que Jesus Cristo. Os Rolling Stones e The Who eram a antítese do bom comportamento. Os jovens hippies usavam drogas psicodélicas e pregavam a paz e o amor livre em contraposição dos velhos moralistas e paranoicos que financiavam e promoviam a guerra do Vietnã. Jimi Hendrix no meio de um concerto, incendiava sua guitarra em um ritual, que para muitos moralistas era profano. Rob Tyner a frente do MC5 gritava: “Kick out the jams, motherfuckers!” (Chutem as elites). David Bowie personificava a androginia em contraponto à sociedade conservadora ocidental. Jovens punks gritavam sentimentos de desespero e frustração contra uma sociedade capitalista, que a cada dia se tornava mais fria, indiferente e desumana. O peso do heavy metal desafiou a música comportada e comercial das FM's...

Todavia, em plena segunda década do século XXI, vemos músicos de rock defendendo tudo aquilo que seus antecessores (e alguns deles mesmos), repudiavam no passado: A caretice e o falso moralismo.

Dave Mustaine, o primeiro guitarrista solista do Metallica e eterno líder do Megadeth, durante as décadas de 1980 e 1990, dizia-se anarquista e fazia discursos duros contra os governos, sobretudo à administração Reagan. Mustaine defendia uma completa descrença nas autoridades, em especial nas autoridades de cunho conservador. Entrementes, hoje rebatizado em uma igreja evangélica, o líder do Megadeth ao contrário da maneira como agia durante sua juventude, é membro do conservador Partido Republicano e defende a promoção de guerras bárbaras, como a Guerra do Iraque e a obediência aos preceitos morais do cristianismo neopentecostal. O Megadeth ainda é uma banda de heavy/speed/thrash metal, porém hoje suas letras falam acerca das novas crenças conservadoras de seu líder e muitos sucessos de outrora foram descartados em definitivo das set lists dos concertos.

Ted Nugent é o mais extremo de todos os roqueiros reacionários. Tendo sua carreira iniciada na década de 1960, o guitarrista dono do hit “Cat Scratch Fever”, hoje não apenas é membro do Partido Republicano, como também são notórias suas declarações racistas e xenofóbicas, que este costuma dar durante entrevistas. “Tio” Ted (alcunha da qual gosta de ser chamado), não aceita mais fazer concertos fora de território estadunidense e gaba-se por isso. Em uma de suas declarações polêmicas, afirmou que não faria uma turnê pela América Latina, pois “ficaria tentado a alimentar os animais.” O engraçado, é que se a tal turnê ocorresse, seriam os “animais” que dariam alimento ao Ted Nugent. Mas, enfim...

No Brasil, dentre os músicos de rock que enveredaram para o conservadorismo, se destacam Roger Moreira (líder do Ultraje A Rigor) e Lobão. Lobão, em especial, fazendo a voz mais alta do coro neoconservador, chegou a defender a ditadura do regime militar de 1964 e alinhou-se ideologicamente com teóricos da conspiração, como por exemplo, o ex-astrólogo e guru de autoajuda ideológica, Olavo de Carvalho.

Recentemente, assisti a um vídeo em que o guitarrista da banda Dr. Sin, Eduardo Ardanuy, reprovava (com um grão de areia de razão), a atual metodologia da educação musical no ensino público, citando Mozart, Bach e Beethoven e fazendo a seguinte declaração: “O pop é cancerígeno.” Tendo em vista tal frase, é de supor que seu autor não seja componente de uma banda de heavy metal, mas sim, um maestro ou um compositor de óperas, certo? Até porque, heavy metal é música popular, assim como a axé music, o pagode e tudo o que não seja erudito (sim, o jazz também é música popular).

Sim, tenho ciência de que sempre existiu um lado reacionário no rock. Basta notar a existência desde a década de 1980, das bandas de RAC (Rock Against Communism, um subgênero que mescla a música punk com hard rock, feito por bandas de ideologia neonazista). Entretanto, nenhuma dessas bandas fizeram parte da cena mainstream, pois mesmo visando o lucro, nenhuma grande gravadora investiria em algo que remetesse à extrema-direita.

Deixo notar que meu modo de pensar tende à corrente social-democrata e que não sou favorável a nenhum partido político. Pois no Brasil, dentre os partidos que possuem maior visibilidade na mídia, nenhum destes segue uma ideologia. Não passam de partidos neoliberais vazios, que possuem o mesmo modus operandi e praticam em comum acordo, o apelo à manutenção do status quo.

Por derradeiro, deixo aos roqueiros reacionários como mensagem final, o título da clássica série de álbuns do mestre Frank Zappa: "Shut up 'n play yer guitar!" (Cale a boca e toque sua guitarra!)

12 comentários:

  1. "O Pop é cancerígeno" não é nada perto de "a maioria [dos necessitados] merece o inferno" que o mesmo Ardanuy profere um tempinho depois na mesma entrevista.

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    1. Opa, com certeza! Isso que ele disse foi de uma sordidez sem par. Citei a frase em que ele falava de música pop, apenas para mostrar o quão contraditório foi o discurso dele.

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  2. Tenho lamentado muito também essa onda,ultra consevadora . E pensar que Raul um disse que o Diabo é o pai do Rock . Na toada que as coisas andam, vamos ter que levar o coitado ao programa do Ratinho e pedir teste de DNA ! Forte Ab

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    1. Pois é. O rock está cada vez mais parecido com uma igreja. Forte abraço!

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  3. Tem o Rodolfo do Raimundo também.

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    1. Rodolfo nem do rock vive mais Yuri. O legado que ele deixou é incontestável. Faça como o Raimundos atual! Esqueça o Rodolfo e tente fazer você a diferença no nosso meio do Rock 'N Roll. Já li outra matéria parecida com essa bem antes e acho muito vazio os argumentos dos 2 autores. Ou será o mesmo?

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  4. A coisa vem de longe. Começou com o Kansas, e seu nacionalismo caricato.

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    1. Não sabia desse nacionalismo que o Kansas tinha. Penso que pelo fato dessa banda se enquadrar no mesmo estilo que Journey, Supertramp e Asia, a imagem deles é mais "amansada".

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  5. Dois pontos:

    1 - Acho que isto é ciclico. Teve uma época que Jazz era marginal. Mas ja passou pela fase mainstream. O Rock saiu de um produto juvenil para a fase contestadora, e virou mainstream. E tudo que é mainstream luta pelos status quo.. Enxergo isso quando vejo declarações de coxinhas confessos (como o Roger) até defesas da industria fonografica, como uma defesa dos patrões - vide Skank a uns 10 anos atras.

    2 - ted Nugent é sem noção. Sempre foi. E muito provavelmente ele nunca prestou atençaõ no que falou. Fora isso, foi um grande "zuero". dave Mustaine chegou num fundo de poço radical. Redneck até o osso. E isso acho mais perigoso.

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    1. Concordo, Portuga. Mas o rock tem um diferencial do jazz: Ele é muito instável. Pra você ter uma ideia, os anos 70 fizeram parte do mainstream (progressivo, hard rock, etc). Aí, surgiu o punk na segunda metade da década e tudo descambou novamente para a contestação (que virou mainstream novamente anos depois).

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  6. acredito que os casos de corrupção do governo que todo mundo achava messiânico como o lula fizeram esse povo ficar maluco que nem o 11 de setembro nos americanos,acho que foi um golpe profundo nesse povo a decadência do pt (cujo muitos membros eram ex revoltadinhos do psdb) no final todos os políticos são iguais a diferença é somente como eles lidam com os impostos

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